quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Olhando pelo "buraco da fechadura"...



Todos nós temos na nossa parte "voyeur", seja para matar a nossa curiosidade ou para saciar os nossos desejos, principalmente, aqueles mais secretos, onde muitas vezes, buscamos ocultar até de nós mesmos - como se isso fosse possível, já que a psique humana sempre tem um gatilho próprio e muito tênue para clarear o que está obscuro. Algumas obscuridades são simples e bem comuns, já outras estão entre o limiar do que é permitido ou condenável, do que é saudável ou patológico. Mas, em via de regra, no âmbito sexual, tudo que é consensual para o casal é considerado normal - cada um com o seu desejo, fetiche ou tara.

- "Mas, não se preocupe, eu não posso ser considerado um tarado em potencial, porque eu sou bem calmo nesse aspecto e, em alguns momentos, até travado pela minha timidez. Dan, desbloqueia!!!" rs...


Voltando a nossa reflexão, toda vez que eu me pego olhando pelo "buraco da fechadura" (essa expressão não precisa ser levada ao pé da letra, nesse caso, é uma metáfora), eu não constato apenas aquilo que eu conheça ou possa vir a desconhecer, mas, sobretudo, estar conectado comigo mesmo, me conhecendo melhor e reafirmando o que eu quero para mim e definindo as minhas limitações. Nada mais é do que um exercício íntimo de autoconhecimento.

- "Paro, olho, sem resistências, envolvido pelo êxtase do momento, perco as resistências e me deixo levar pelo desejo (Amém, Desejo... Amém!!!) e alcanço o meu ponto de saturação - o gozo alcançado de quem superou as suas resistências iniciais, transformando o desejo em ação."


Porém, após ao gozo, ao êxtase, ao frenesi, é chegado o momento de você se deparar com o espelho da realidade e se enxergar, nu e cru, da forma mais contundente e sincera possível, sem segredos ocultos no consciente, as suas verdades explicitadas, as suas máscaras ao chão, enfim, você não tem como fugir de si mesmo e das suas questões e certezas. Se por um lado, você pode relaxar após um grande estampido da pólvora recém projetada, do outro, você pode sentir a dor, a sofreguidão de quem levou uma bala cravada ao peito.

São tantas sensações. Algumas afins e que fazem todo sentido, já outras são desencontradas, gerando desconfortos e conflitos. Todas as vezes, que os meus desejos me fizeram completo sentido, eu repousei, como um guerreiro que volta de uma longa batalha, sedento de fome e sede, precisando de banho, roupas limpas e cama macia para descansar - consciente que lutou por uma causa justa e nobre. Quando, os meus desejos deflagram em mim uma perda de sentido, fazendo eu me perder, sinto-me que eu estou no caminho errado, longe do que eu realmente quero e defendo pra mim.

- "Nesse segundo momento, é como se eu estivesse debatendo-me contra mim mesmo, profanando todos os meus princípios, pisando com os pés descalços numa estrada calçada por cacos de vidro e labaredas que queimam a minha credibilidade. Sinto como se eu estivesse falhado comigo mesmo, por estar me distanciando dos meus sonhos - de tudo aquilo que me faz sentido e não coloca o meu caráter à prova."


Não é um gozo banal e fácil que me fará sentir vivo e em paz comigo mesmo, mas, o gozo de quem se certifica de que está no caminho certo, onde o discurso condiz com a prática, os sonhos, desejos e as fantasias são concretizadas da forma como você sempre quis e com quem você quis. Não se trata de satanizar a carnalidade, a carência e os calores à flor da pele que nos fazem subir pelas paredes e uivar para a lua, mas, não se limitar apenas ao sexo quando você pode aliá-lo ao amor, ao carinho, ao respeito, enfim, uma união maior.

- "Desejos são desejos e cada um tem os seus e os concretizam como pode, mas, não é sendo contrário aos meus esquemas que eu conseguirei fugir de mim, aniquilando qualquer culpa ou chateação por tentar burlar a sua essência e as suas prerrogativas máximas."



Toda vez que eu olho pelo "buraco da fechadura" e não me enxergo, é como se eu não estivesse agido como eu, como se faltasse parte das minhas verdades e da minha alma, porque, eu não sou um homem pela metade, mas completo em toda a minha integralidade contraditória, em toda a construção que jamais está encerrada, indo até o meu último dia de vida.

- "Às vezes, as minhas resistências podem estar baixas, não me gerando nenhum conflito e importuno, como também, elas podem estar altas, fazendo-me padecer no paraíso, onde ao morder a maça, transporei do Éden para o Inferno, não na crença que resvala na tentação, no pecado e na serpente, mas, contrariar o projeto de vida que eu defendo para mim."


Talvez, esse texto não faça nenhum sentido para você, mas, para mim, faz todo sentido, pois é assim que eu me sinto quando eu olho pelo "buraco da fechadura" e não me encontro do outro lado, porque, neste impactante instante, eu me encontrava longe de mim.

- "Pouco me adianta ceder aos meus desejos, meros desejos, se eles não comungam com o que eu defendo e proponho para mim. Não é me distanciando de mim mesmo que eu irei me encontrar. Se ainda olho por alguns buracos e frestas, mesmo que inconscientemente, com certeza, é para reforçar tudo aquilo que eu prezo e rechaço, pelo fato de não me faz representar, além de exaltar o bom senso que ainda há em mim."

Dessa forma, é importante saber o porquê e para onde e quem você está "brechando" para depois não se aviltar.

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"As lágrimas não reparam os erros!!!"

The Verve - Bitter Sweet Symphony (with lyrics)

♫ Pitty - Na sua estante

"Eu não ficaria bem na sua estante..."