sábado, 27 de abril de 2019

Tempos difíceis para as Ciências Humanas no Brasil



As trevas da ignorância e o breu da intelectualidade estão voltando à todo vapor às nossas universidades e ao nosso convívio social. O tempo está ficando nublado e ultrajantemente obscuro, eles querem apagar à luz da liberdade e do acesso e produção de conhecimento crítico-reflexivo e da intelectualidade que ainda nos restam. 

Porquê o anuncio oficial do corte das verbas públicas destinadas às Universidades Públicas e Federais Brasileiras para investirem nos estudos e nas pesquisas acadêmicas dos seus Centros de Ciências Humanas, em diferentes áreas do conhecimento científico (História, Geografia, Filosofia, Pedagogia, Letras, Psicologia, Direito, Comunicação Social, Assistente Social, Sociologia, Antropologia e Ciência Política) e em especial das Ciências Sociais, por parte do atual Ministro da Educação, o Sr. Abraham Weintraub, não me surpreende?!!! Simplesmente, porquê, cortar/reduzir/sacrificar os investimentos nessa importante área do conhecimento acadêmico é proposital e já esperado. Para a estratégia ideológica e educacional do Governo Nova Era, pautado nos princípios da Educação Tradicional, Elitista e Alienadora, não é interessante ter uma Universidade Pensante e Politizada, que estimule o pensamento crítico e reflexivo por parte do seu corpo docente (professores) e discente (estudantes) e que tenha força de engajamento e mobilização populares.     

Primeiro, será que esse Senhor Ministro da Educação tem familiaridade com as Humanidades e, sobretudo, é um "Homem da Educação"?!!! Será que ele tem à dimensão exata e a preocupação do atraso cognitivo, intelectual, político e sócio-cultural que ele provocará para a formação educacional e universitária das futuras gerações?!!! Infelizmente, não, porquê se tivesse, não teria nem sequer proposto tal infeliz infâmia. Quebrar as pernas das Ciências Humanas, a área que mais produz conhecimento teórico e acadêmico, estudando, analisando criticamente e propondo soluções viáveis e pertinentes para solucionar o caos humano e social e os diversos fenômenos estudados por diferentes ramos do conhecimento, também é uma forma de fragilizar e desarticular o meio acadêmico universitário, neutralizar a comunidade intelectual e cultural desse país e, consequentemente, emburrecer à população. 

Quanto mais o indivíduo for privado do acesso ao conhecimento amplo e diversificado e não for estimulado cognitiva e intelectualmente para ser um cidadão lúcido e politizado com pensamentos críticos e capacidade reflexiva, mais fácil será torná-lo uma massa de manobra acéfala e acrítica, uma marionete ou um boneco de ventrículo que lhe dão os comandos e ele repete o discurso e faz, executando mecanicamente sem questionar, onde o cidadão é ignorante, alienado, submisso e fácil de ser manipulado. Para o Governo "Nova Era" não é interessante para os seus planos de governo ter uma comunidade universitária e um povo politizado, pensante, questionador e irreverente, que seja um obstáculo para à "catequese" e dogmatização ideológica que eles pretendem implantar à partir de uma Educação Tradicional e uma visão fascista de extrema direita. Isso é tão óbvio que só não enxerga quem não quer e compactua com esse Modelo de Brasil Ignorante e Manipulável que já estão pondo em prática e com resultados já perceptíveis. 

Cortar as verbas das Ciências Humanas, acabar com as Ciências Sociais e sucatear as Universidades Públicas e Federais implica diretamente no retrocesso intelectual acadêmico, histórico e cultural na formação do nosso país e da nossa gente, comprometendo à qualidade e importância das pesquisas teóricas e acadêmicas e a produção e o acesso ao conhecimento necessário para problematizar e apontar soluções para os nossos fenômenos e conflitos éticos e morais, comportamentais, políticos, socioeconômicos, educacionais, filosóficos e sócio-culturais e suas mazelas. 

Assim, sucatear o meio acadêmico e universitário e desestruturar os Centros de Ciências Humanas é promover à desarticulação do pensamento universitário contestador e, sobretudo, eliminar um importante foco de tensão e resistência para que o Governo possa gerir livremente, sem críticas ou fiscalização. Não é interessante para a perspectiva do dominador e opressor, pautada na alienação e na obediência cega e apática da população, criar agentes de transformação social, indivíduos politizados, pensantes e contestadores. Quanto mais o povo brasileiro for ignorante, apático e politicamente desorganizado, melhor será para a política vigente. Quem ganha com a desunião entre os brasileiros, bipartidos e brigando entre si é a lógica perversa que já está no poder. 

Viva à ignorância e a alienação do povo brasileiro. Foi assim que o atual presidente se elegeu, amparado pela desinformação dos eleitores e na propagação de fakes news entre as redes sociais e aplicativos de celular, ludibriando o povo e os seus eleitores. Como essa estratégia funcionou, é assim que o Governo "Nova Era" pretende continuar governando e se perpetuando no poder, mas, agora com a Máquina do Governo nas mãos, fazendo uso da censura, da opressão e da manipulação.                             

Se o Brasil já era um país de analfabetos e ignorantes letrados e políticos, a tendência é piorar. O drama que as universidades brasileiras e o movimento estudantil sofreram na época da Ditadura está de regresso outra vez e não demorará muito para que a perseguição e as atrocidades cometidas tornem-se parte do nosso cotidiano. É o novo princípio da Escuridão do Saber, já que o bom senso foi às favas. 

Para os filhos das Ciências Humanas como eu, cabe toda a nossa revolta e indignação por esse desrespeito às nossas ciências e os seus conhecimentos, porém, eu não posso dizer que eu estou chocado, porquê, essa tomada de decisão via governo já era tragédia educacional aguardada por mim e previamente advertida.   



  

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