A partir do momento em que o Presidente da República proibi à exibição e distribuição de filmes nas salas brasileiras de cinema com a temática LGBTQ+ e veta a propaganda do Banco do Brasil por incluir a diversidade em seu Storyboard e, não contente, ainda despedi o responsável pelo Setor de Marketing, a mensagem é muito clara: Sim, a censura voltou ao Brasil e nós temos um presidente intolerante e preconceituoso, avesso à diversidade humana e sexual.
Até aí, nunca foi novidade para ninguém, porquê, antes mesmo de ser eleito Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro nunca esteve preocupado em demonstrar essa sua faceta sórdida e excludente. Como também, não é novidade para ninguém que ele é um defensor ferríneo da família tradicional hetero normativa. Nada fora do que se pode esperar dele, mas, o que não pode é a hipocrisia e a desfaçatez de alguns aliados e defensores do novo governo tentar camuflar o que é óbvio, seu alto grau de desconforto e preconceito com as questões da sexualidade e da diversidade humana. Temos um presidente repleto de preconceitos, okay, faz parte da condição humana e sua subjetividade, mas, o doentio, é o mesmo não saber lidar com os seus próprios preconceitos de forma pacífica e democrática: Quantas vezes, ele não demonstrou em público seu destempero e descontrole emocional diante de situações dessa natureza, ao ponto de incitar o discurso de ódio?!!! Fosse abertamente ou de maneira velada.
Pois muito que bem, a diversidade é uma realidade incontestável no Brasil e no mundo inteiro. Agora, em nome da moral e dos bons costumes de uma sociedade hipócrita como a nossa, que bate no peito e brada em defender e restaurar os princípios da família tradicional brasileira e da heterossexualidade, como se algum dia tivessem sido alvo de bullying ou preconceito ou alvos de violência física, psicológica e moral, em detrimento das diferentes maneiras de ser e de viver, vamos fingir que a diversidade não existe ou fechar os olhos para ela quando for conveniente para nós ou colocá-la de novo para debaixo do tapete, para dentro dos "armários" e de volta aos guetos marginalizados ou exterminá-la como se fosse uma praga, uma erva daninha?!!!
Diante desse contexto de censura e exclusão, eu deixo a seguinte questão: Resgatar a dignidade das "minorias" e excluídos brasileiros e preservar à cidadania destes e respeitar os seus direitos como cidadão não deveria ser uma preocupação constitucional e democrática desse novo governo?!!! Apenas deveria, porquê ideologicamente e na prática de políticas públicas e sociais não é e nem será.
Os mesmos paladinos da moralidade esquecem de uma contradição existencial, embora não seja uma via regra e nem unanimidade, há tantos desses supostos "machos-alfas" heteros normativos, quando não estão sendo vistos e nem vigiados ou restritos em 4 paredes, longe dos olhos dos outros e das suas famílias e amigos do convívio social, às escondidas e em segredo, dão vazão aos seus instintos homossexuais, bissexuais e outras vertentes homoafetivas e práticas sexuais. Se Nelson Rodrigues e Sigmund Freud estivessem vivos, as suas teorias comportamentais, literaturas e relatos da vida cotidiana continuariam sendo (como ainda são) pertinentes e no auge para captar a essência humana e os seus desvios éticos, morais e sexuais.
O que não falta e sempre existiu na sociedade hipócrita brasileira são os "enrustidos", pois, se não fossem eles, a homossexualidade continua se perpetuando bem debaixo dos seus críticos e algozes, vivendo uma farsa social e familiar como héteros, mas, levam uma vida paralela e clandestina. Seja por hipocrisia ou covardia ou senso de sobrevivência contra as críticas, os preconceitos e as coerções sociais, estes vivem tórridos "bromances" (romances homoafetivos entre amigos duradores e/ou fugazes) ou excitantes aventuras e jogos sexuais homoeróticos ou eventualmente se relacionando sexualmente com outros homens (conhecidos e/ou estranhos) ou transam discretamente com seus parceiros fixos, geralmente os seus melhores amigos ou colegas de academia, trabalho, universidade, grupo da "pelada" do final de semana, grupo de luta ou fazendo pegação em banheiros públicos e/ou via pública ou em saunas masculinas e mistas ou em bares e boates gays (dark room e banheiros masculinos), enfim, situações e circunstâncias não faltarão para eles darem vazão aos seus desejos sexuais e sua sexualidade oculta, sufocada e reprimida.
Levar uma vida dupla também acontece com as mulheres "enrustidas", mas de uma maneira muito mais discreta e sem tanta exacerbação sexual, se comparada aos homens, menos voraz e "devassa", digamos assim, e. quando acontece, o peso da afetividade e da importância de viver a atmosfera de uma relação amorosa é muito mais presente devido à educação rígida dada às mulheres.
Portanto, nos últimos anos, a diversidade está sendo focada pelos holofotes da sociedade, está sob à luz pública em deferentes esferas, no centro dos debates, da mídias e protestos populares e essa visibilidade vai de encontro e contra aos interesses e princípios de uma Sociedade Tradicional que jamais alcançará os ideais de perfeição que propõe e propaga. Para mim, o problema não está em preservar os princípios éticos e morais e os padrões familiares e sociais, sobretudo se forem petições justas, pertinentes, razoáveis e dentro de uma coerência e do bom senso, porquê toda sociedade que se preze, precisa aprender a viver com normas e conviver civilizadamente à base do respeito, da tolerância e justiça social. O problema está no extremismo que os discursos do ódio, da intolerância e do preconceito trazem, promovendo à exclusão social, o desrespeito às diferenças, as guerras políticas e ideológicas que segregam uma sociedade.
O mundo, a sociedade e a humanidade avançaram e se transformaram em muitos sentidos e continuaram seguindo esse processo de evolução contínua, assim espero e se não houver um retrocesso histórico, logo a dinâmica social de hoje é outra e não dá para regressar no tempo e querer vivenciar o ritmo e as práticas sociais de uma realidade que já não existe mais. É preciso encontrarmos uma maneira de viver pacifica, inclusiva e sobretudo respeitosa. Viver entre guerras e privação de liberdades coletivas e individuais nunca foram à solução para os problemas e os conflitos da humanidade.
O desafio está posto, Sr Presidente: É preciso aprender a lidar com a diversidade humana, político-partidária e sociocultural, porquê a peculiaridade do Brasil está em sua pluralidade, às suas diferenças. Será que o Senhor é capaz de fazer essa autocrítica e perceber que é o Senhor e os seus que precisam se adequar ao mundo atual e não adequar/transformar o mundo de acordo com os seus critérios ultrapassados, limitados e tradicionais?!!! Não se trata de imposições, proibições e censuras mas, transformações internas de uma mentalidade tacanha e conservadora.