Num país onde o sexo e a diversidade sexual ainda são tabus como é no Brasil, a nudez e a liberdade de expressão corporal são e serão sinônimos de polêmico, colocando em evidência a hipocrisia e o conservadorismo em ascensão que residem na sociedade brasileira. Sem mencionar a contradição, onde, de um lado, estão a liberdade e a euforia que nos rotulam como o país do futebol e do carnaval, exalando toda a nossa sensualidade tropical por todos os poros; e, do outro, está a restrição puritana e provinciana dos séculos passados, respaldada pelo crescente falso moralismo. Estamos bem, não é?!!! Entre os dois lados de uma mesma moeda em constante conflito.
Nesse sentido, aonde há culpa, há pecado. Aonde há desinformação, há preconceito. Aonde há censura, há proibição. Como diria Nelson Rodrigues: - "Toda nudez será castigada"; não sendo a primeira vez no Brasil que uma exposição foi vetada como a nudez sendo o suposto estopim de proibição e censura, não é Sr Governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzer?!!! Mas, há controversas Senhores e Senhores.
Domingo passado (13), haveria uma exposição literária intitulada "Exposição Literatura Exposta", na Casa França-Brasil, onde apresentaria algumas obras e, entre elas, uma em especial, baseada no conto "Barataria" do autor Rodrigo Santos e seria complementada por uma performance humana, onde duas mulheres desnudas iriam interagir com tal e incômoda obra que fazia alusão aos porões da Ditadura e uma crítica social à ideologia do novo governo. Sim, tratava-se de uma expressão artística bastante provocativa e deu no que deu.
Não conformados com a censura explícita do Sr Governador, a "Barataria" foi reproduzida no dia seguinte, ontem (14), em via pública, em frente a Casa França-Brasil que se encontrava lacrada, sendo aclamada pelo público presente e tendo repercussão na mídia e nas redes sociais. Claro, com a performance "A voz do ralo é a voz de Deus" do grupo "És uma maluca". Porém, sem nudez explícita - ela foi castigada.
Quanto a obra retratada, não é o tipo de expressão artística que eu gosto de contemplar, simplesmente pela overdose de realismo que ela traz. Mas, apesar do seu impacto como arte visual e crítica social é válida em respeito ao trabalho do artista. E, quanto à censura, SIM, houve cesura, eu ainda sou defensor da liberdade de expressão, mesmo que incomode alguns e o governo.
Voltando à questão da nudez, ... O sórdido não está no nu artístico, desde que ele não seja usado gratuitamente e sem contexto, mas na relação tóxica que você estabelece com a nudez e o seu próprio corpo. A nudez sendo usada como elemento de cena e com o propósito de impactar (num primeiro momento) e depois estimular a (auto)reflexão não tem problema algum e terá cumprido o seu papel sócio-cultural.
Se a nudez é natural para você, logo não haverá dolo, nem culpa cristã e, muito menos, um sinal ultrajante de desrespeito. Feliz daquele(a) que pode exercer e viver a sua sexualidade com liberdade e sem tabu, estabelecendo uma relação saudável com o seu corpo nu. Para isso, a relação sadia com a nudez deve partir primeiramente de você, se você é uma pessoa bem resolvida consigo mesma e sem preconceito - sobretudo, respeitando os demais. Se você não sabe lidar com a sua própria nudez, fatalmente não saberá lidar com a nudez dos demais. Não seria o momento adequado para você aprender à ser uma pessoa bem resolvida e enfrentar os seus tabus para evitar culpas, constrangimentos e sofrimentos desnecessários?!!!
Não podemos deixar de lembrar que a nudez e a expressão artística vem andando de mãos dadas durante séculos e, apesar de toda crítica e rechaço político e sociocultural, essa parceria continua resistindo: Um não larga a mão do outro, porquê a nudez tem a sua beleza, tem a sua expressão artística. Agora, a sua aceitação dependerá se for usada de maneira adequada e contextualizada, usada a partir do bom senso e do bom gosto estético. Todavia, embora a Pornografia seja considerada imprópria e de péssimo gosto, ela também tem a sua função e público "XXX", à medida que a nudez e a relação entre os corpos devam estimular o desejo, a fantasia, a criatividade e o erotismo seja individualmente ou entre a intimidade e privacidade do casal.
Apesar da (auto)censura, seja ela pública (coletivo) e/ou privado (íntimo, pessoal e particular), a expressão artística pode ser debatida e até valorizada, mas censurá-la é calar à liberdade de expressão em prol de todos nós. Essa voz não pode ser calada nem por preconceito e nem por ideologia política e partidária. E a nudez?!!! É apenas uma forma de expressão, também há outras formas.
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