Corpos, muitos corpos
Padronizados
Apolíneos
Trabalhados, investidos,
Incessantemente como se fosse uma missão
Um objeto, um produto
Um atrativo para ser notado,
Cultuado, Desejado
- “Caraça, maluco!!! Cadê os caras normais no Rio de Janeiro?!!!”
Nesses meus dias de “garoto de Ipanema”, algo ficou muito nítido e perceptível aos olhos: “Até então, considerava-me normal, nada mais, nada menos do que um simples e mero mortal. Mas, o meu conceito de normalidade estética foi desconstruído nesse inverno com um “Q” de verão, percebendo que ser “normal” é se entregar ao culto ao corpo, sendo um “SER APOLÍNEO” – sarado, NÃO, saradíssimo".
- “Entre tantos Apolos, andando pra baixo e pra cima com o dorso nu ou de camisa regata, nada de errado nisso, sendo praticamente uma lei carioca, foi impossível não me perguntar: Onde estão os caras “normais” mais relaxados e alheios à ditadura da “maromba”, bem resolvidos com as suas barriguinhas de chopp, importando-se mais com o CONTEÚDO do que com a forma?!!!”
É claro que eu não seria hipócrita em não reconhecer os fascínios e os desejos que um corpo bem cuidado, definido, forte, longelíneo e aparentemente saudável (porque alguns ultrapassam toda e qualquer noção de bom senso pondo em risco a sua saúde emocional e física através de expedientes duvidosos) gera admiração por aqueles que contemplam, sendo o sonho de homens (que buscam ser assim, seja por saúde ou por vaidade ou por desejo ou por compulsão) e de mulheres (que por serem vaidosas e, muitas vezes, escravas da ditadura da beleza, elas acabam por desejar caras assim). À priori, um corpo apolíneo chama de imediato a atenção, causando muitas vezes arrepios e calores, mas, será que a arte da conquista e da sedução se resume apenas ao desejo por um corpo sarado?!!!
Será que os outros caras que fogem a essa regra (“patinhos feios”, “gorduxitos”, “nerds”, “tímidos”, “desleixados com a aparência”, “magros”, enfim, os não sarados), que se encontram à parte do universo apolíneo, precisam se curvar e se render a esse apelo corporal?!!! Será que eles precisam se tornar escravos da ditadura da “maromba” para ser percebido e só assim ser interessante aos olhos dos outros?!!!
- “É uma lástima, infelizmente, mas, a cada dia que passa, eu me convenço mais que “ser o que se é” não é o suficiente para se relacionar no “Planeta dos Solteiros”. Apolos e Afrodites acreditam e propagam esse culto a vaidade e a futilidade estética, esquecendo-se que a beleza também pode ser encontrada além de um “corpitcho” escultural.”
Definitivamente, nada contra aos Apolos, mas, como pertencente a tribo que valoriza o conteúdo interno mais do que a forma, eu preciso valorizar a minha categoria. E o pior é que, até os mais belos não conseguem se relacionar entre si, também estando expostos aos desencontros amorosos e a solidão – acabam-se escravos de suas aparências e perdendo-se em seus imagens refletidas no espelho.
- “My people, please, ask in the questions if me: O que é padronizado é sinônimo de qualidade?!!! É válido ser mais um na multidão, quase pertencentes a produção corporal de escala?!!!”
Eu não irei entrar no mérito de julgar a escolha individual de cada um, mas, criticar o sistema em si, muitas vezes, cruel e desleal, além do que, eu não irei cometer a ousadia de agregar mais esse conflito em minha vida: “Ser ou não ser Apolíneo, eis a questão”.
- “Nesse quesito, só eu sei que: “Vamos beber e beijar na boca sem compromisso, porque a competição é certa e namorar está foda!!!” Qual seria a solução?!!! Sucumbir a maromba ou ficar a margem do processo estético bancando de fato quem se é?!!!”
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