sábado, 6 de setembro de 2008

De: Irmão... Para: Irmãs...


São Paulo, 06 de setembro de 2008.


"M & M, meses se passaram após a morte da mamãe e essa lacuna é desconcertantemente presente. Não há um momento sequer que eu não pense nela e por tabela em vocês também. Nessa mesma data, 06/09 do ano passado, eu estava pondo os meus pés em São Paulo em busca de um sentido para a minha vida. Hoje eu sei que não foi apenas por isso.


Por não ter estrutura emocional para acompanhar (...), não houvesse momentos que eu me preocupasse muito com ela. Se naquela época, eu já sonhava com ela em vida, agora, vocês imaginem na pós-passagem, os nossos encontros em sonho são muito mais freqüentes, intensos e reais. Todo encontro não se resume mais a sonhos, mas, encontros em outra dimensão. Estamos muito mais ligados agora do que antes.


Eu não sei se fiz a opção certa de vir para São Paulo, me jogando com a cara e a coragem, sem projetar muito o futuro, mas, naquele momento, quando a mamãe se foi, era a opção que eu tinha: continuar a inércia que era a minha vida ou tentar outra dinâmica para a minha vida. Eu estou fazendo o que é possível ser feito, do jeito que eu posso, arriscando muitas vezes. Embora alguns momentos, bata um desânimo por tudo, pela saudade dupla (ausência dela em vida, por estar longe de vocês), por não estar sendo tão fácil como eu gostaria que fosse, por nem tudo depender da gente, podem acreditar, o Daniel rebelde de uma vida toda, está calmo e ponderado – talvez eu esteja adormecido diante tantas incertezas e estar aprendendo a andar sozinho de novo, com as próprias pernas.


Não sei se estou no caminho certo, se essa escolha vai me fazer feliz, mas, pelo menos, eu estou me permitindo a tentar, mesmo com todo jogo de cintura possível – “Dandim”, aqui está quase um contorcionista ou um equilibrista de corda-bamba, tendo que se rebolar e se virar como pode, dentro do possível que é ser feito.


Se às vezes não ligo tanto dando notícias, como eu gostaria, nem que fosse para dar um simples “oi” ou saber como estão vocês, os meninos e os bichinhos, é para economizar e não desinteresse da minha parte. Minhas raízes estão aí com vocês e sinto muita falta de tudo, até das discussões e bate-bocas.


Não posso prever nada com nitidez, nem prometer que o sucesso será total, mas, no momento, eu estou fazendo o meu melhor e isso me deixa tranqüilo em partes, porque viver na incerteza é uma merda!!! Digo nem pela ausência do conforto e da segurança que eu sempre tive aí, mas, não me sentir bem amparado, estável na vida.


Acredito que tenha crescido em 01 ano, o que eu não cresci nos últimos 10 anos, mas, a saúde está em dia, o bolso nem tanto, mas, vamos ver até onde essa aventura vai me levar. Passando ou não nesse processo de mestrado, que já está se encaminhando para uma definição, graças a Deus, ter um título não é a coisa mais importante, mas, ter um lugar no mundo, de preferência cercado por pessoas que torçam por mim, por nós.


Talvez eu tenha que passar por tudo isso para ser mais forte, mas, até aqui, eu ainda não quebrei, talvez porque eu esteja me conduzindo de forma branda e leve, não deixando me contaminar com o estresse da cidade e nem me desesperando com a emergência de uma definição. Eu estou aprendendo a esperar e a ser menos impaciente as duras penas.


De fato, independente do resultado, eu esteja mais ávido por uma definição e, com certeza, louco para cear com vocês no Natal, em estar literalmente em casa, juntos com os meus. Vai ser um reencontro diferenciado, porque eu daria dez anos da minha vida para ter a mamãe mais 10 anos conosco, mas, o que me conforta que ela estará conosco, pelo menos, em pensamento e coração.

Não posso reclamar de estar me sentindo só, porque dificilmente eu estou só aqui, graças aos meus novos amigos que estão aqui, mas, falta parte de mim – Ela, vocês, a segurança que eu tinha antes. Podia a ver a tempestade que o barco tinha aonde aportar, mas, agora, me sinto completamente a deriva – a se não fosse os meus momentos de lucidez, acho que já teria ido a pique ao muito tempo. Ele sabe que faz. Tomara!!!


Saudades de vocês, do Daniel que achava que sabia tudo, de alguns amigos que ficaram em Fortaleza, mas, se a vida me conduziu até aqui, que ela trate de dar um jeito para me deixar, pelo menos, em pé e em condições para buscar o meu lugar ao sol e a minha felicidade. Pelo menos até aqui, ainda não perdi o bom humor.

Sinceramente, eu espero que vocês estejam bem e que estejam conseguindo superar a ausência da mamãe, sem perder o sorriso no rosto e a confiança de que as coisas irão melhorar. Saibam que vocês estão comigo, embora não reze muito, sempre emano bons e positivos pensamentos para todos nós.


Beijo em cada uma de vocês e em tudo aquilo que nos ainda faz ser uma família, nem tão presentes assim um na vida do outro, mas uma família aprendendo a viver sem a peça principal desse grupo. Fiquem com Deus, Dandim."

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