Diante dos últimos acontecimentos de ontem (Domingo, 16/08), o ápice do surto e do absurdo, onde fanáticos da Igreja Evangélica e adeptos e simpatizantes da Extrema Direita, fizeram manifestação em "Prol da Vida" em frente ao Hospital (num local inapropriado para isso, porquê é uma zona de silêncio e respeito), fazendo tumultuo e balburdia, tentando entrar à força no recinto para impedir que uma Demanda da Justiça fosse cumprida: A realização autorizada de um Aborto por um Juiz da Vara da Família, portanto uma ação legalizada, para quê uma criança de 10 anos, abusada constantemente por seu tio (pedófilo), que encontra-se foragido da Polícia já alguns dias, pudesse realizar tal procedimento médico.
Além desse caos extremo de intolerância, indignação e violência coletiva (pois, os ânimos estavam exaltados no local), também ficou explícito à contradição religiosa do discurso defendido, onde os manifestantes estavam apenas preocupados em salvar a vida do bebê/feto (petição digna e legítima), no entanto, e a vida e a saúde da Mãe?!!! Como salvar a vida de um em detrimento de outra, se eles não demonstraram preocupação com a integridade física, emocional e moral da criança grávida como também a sua vida - e, para tornar a situação mais grave e delicada, especula-se que a criança já se encontra com 6 meses de gestação, colocando em riscos concretos as duas vidas envolvidas, mãe e filho. Como calar diante do estupro e considerar apenas a questão do aborto?!!!
Diante do exemplo de radicalismo religioso, cabe essa reflexão:
Nada adianta pregar a "palavra" de Deus e invocar o seu nome em vão, se o fiel não compreende a grandiosidade do que ela simbolicamente quer dizer e abraçar. É preciso compreender à mensagem cristã e contextualizá-la nos dias de hoje para que ela não fique desconectada da nossa realidade humana e social.
Nada adianta andar com a Bíblia debaixo do braço e postar o salmo na bio/perfil, se você não pratica a caridade, a fraternidade e o amor ao próximo como exemplo, todos os dias.
Todavia, não podemos esquecer de que se trata de uma menina de 10 anos que foi engravidada de uma maneira vil, abusiva, criminosa e inaceitável, onde, nesse momento de urgência médica e gestacional, não é o mais importante polemizar se a criança é precoce ou não, desassistida/negligenciada ou não pelo Estado e Família, é preciso agir e protegê-la como tal, pois a "mãezinha" continua sendo o que é: Uma criança em situação de risco.
Por ser constantemente abusada física, emocional e sexual pelo tio-pedófilo, ela é VíTIMA e não algoz. A culpa é do "monstro" foragido, o responsável pelo crime cometido contra a sobrinha dele. Esse rótulo de "Assassina" que atribuíram a menor nas redes sociais é o auge da ignorância e da falta de bom senso que impera neste país bipolarizado.
Além do fato em si ser constrangedor e uma aberração, o pensamento extremista religioso e político que o envolve também o é. Asco e indignação da violação de direitos e hipocrisia de ambos os lados.
P.S. Eu sou completamente contra o aborto como prática para "consertar" atos irresponsáveis de quem não faz sexo seguro e tem o comportamento sexual promíscuo e, nem tão pouco, faz planejamento familiar. Como também quem poderia usá-lo método contraceptivo e de redução da natalidade. Não à banalização do aborto.
Apenas concordo em 3 casos específicos:
I) Má formação (acefalias e anomalias genéticas graves) e mortalidade fetal;
II) Existências de riscos diretos e concretos à vida da mãe e;
III) Em casos de estupro onde a mulher não tenha a menor condição física e inteligência emocional para levar essa gestação (fruto de uma violência, de um crime) até o final, onde, caso conseguisse, após o parto, com o devido acompanhamento tutelar e social, a criança seria automaticamente encaminhada à adoção por vias legais.