terça-feira, 20 de maio de 2008

O Segredo de Brokeback Mountain


Durante um bom tempo, eu resisti assistir essa película. Talvez por preconceito da minha parte ou por eu achar desinteressante a maior parte dos roteiros cinematográficos que já abordaram e ainda continuarão abordando a homossexualidade através de um viés cômico e caricato, repleto de clichês e leviandades, aspectos tão presentes e reproduzidos no universo gay.

- “Embora, não seja o gênero de filme que eu tenha preferência em assistir, já assisti alguns – uns foram recomendados por amigos, outros que passaram na tv. Os filmes “hollywoodianos” que eu assisti, abordaram essa temática por um viés cômico e caricato, tais como, “Studio 54”, “Gaiola das Loucas”, “Cruzeiro das loucas”, “Será que ele é?”. Embora sejam ótimos para dar boas risadas, retrataram basicamente os clichês e os estereótipos desse universo tão rotulado. Já os filmes espanhóis (La Almodova), franceses e Australianos, considerados como cines de artes ou “cutes”, abordam essa temática por um viés mais denso e dramático, a exemplo de “Atraídos pelo Desejo”, “Meu mundo cor-de-rosa”, “Latter Day’s”, que nos fazem refletir sobre outras questões – fetiche, desejo, auto-aceitação, aceitação familiar e preconceito de uma forma variada.”


Os holofotes sobre o filme se apagaram, ele não ganhou o Oscar de “The Best Film” e o galã principal foi encontrado morto em seu apartamento. Passados tais acontecimentos, ontem eu me rendi ao filme e a abordagem diferenciada, sob o olhar sensível e perspicaz de Ang Lee, marca registrada desse ótimo cineasta. É a primeira vez que eu vejo a escola “hollywoodiana” dar um tratamento diferenciado e mais sério sobre o assunto. Realmente, o enredo do filme me surpreendeu.

- “O que me surpreendeu não foi à relação entre dois homens – algo tão corriqueiro nos dias atuais, tão presente no dia-a-dia paulistano, que nem me choca mais ver casais de gays e lésbicas andando de mãos dadas e trocando afetividades em público nas avenidas, nas universidades, nos bares e nos shoppings da cidade. É fato, se o mundo é gay, São Paulo é a referência nacional e a cidade vive a semana que antecede a Parada GLBTT em prol da diversidade sexual; mas, as nuances e os dramas vividos pelos personagens.”


Retratar o preconceito e o puritanismo presente na sociedade norte-americana, entre as décadas de 60 e 70, não é novidade, até mesmo porque, United States of América que preza tanto pela “liberdade”, ainda hoje é uma nação conservadora, pois a sua liberdade consiste no livre comércio e na vocação do “money, money, money”, travestindo-se de liberal. O que não muda muito na nossa realidade hipócrita e preconceituosa, embora, existam diferenças significativas, tais como: a nossa tradição religiosa seja a católica e a deles a protestante; aqui tudo acaba em carnaval, pizza e ôba-ôba e lá na tolerância zero, “welfare social” e na luta efetiva pelos direitos sociais e a cidadania.

A grande sacada do filme foi retratar os conflitos psicológicos de cada personagem, Ennis (reprimido e ausente, repleto de embates e conflitos pessoais que circundavam a sua auto-aceitação como gay) e Jack (impulsivo e esperançoso, ansioso em construir uma vida a dois, impedido pelas hesitações do seu “friend” e a vida dupla de ambos), e os desencontros que estavam presentes na relação, formatada em 20 anos de encontros esporádicos, conflitos de interesses e esperas. Não podemos esquecer do outro vértice do triangulo, Alma – A esposa que tenta salvar o seu casamento e a sua família, martirizando-se física e emocionalmente, em silêncio, sabendo do “passo em falso” do seu marido.

- "Geralmente, porque a vida do homossexual é tão sofrida?!!! Se não bastasse a estufa social, sufocando-os entre expectativas e cobranças sociais, ainda tem as erupções afetivas, marcadas por impasses, conflitos internos e as lacunas, carências e expectativas do outro, que bombardeiam a relação. Bummmmmmmmm!!! Nitroglicerina pura!!!”


Se pararmos para observar, essa película também serve de reflexão para os HTS (heteros), evidenciando que tantos casamentos convencionais são mantidos por conveniências ou aparências (sem fazer generalizações, por favor), onde o marido se intitula heterossexual, mas também, se envolve com outros homens, seja para suprir a sua identidade/natureza homossexual enrustida/sufocada/escondida ou seu lado bissexual (particularmente, essa categoria, enquanto essência bipartida, eu a considero rara). Além das esposas serem sumariamente enganadas e expostas à crítica e ao deboche social, considerando que, em muitos casos, elas são as últimas a descobrir da vida dupla dos seus parceiros e da essência sexual deles, tornando-se crescente o número de casos das “DST’s”, doenças sexualmente transmissíveis, entre as mulheres heterossexuais que as contraem pela libertinagem e falta de responsabilidade dos seus maridos em não fazer sexo seguro, no caso dos não-assumidos, como também, se penitenciarem de todas as formas, porque o sexo conjugal e o casamento esfriaram.

- “Não tem jeito, um erro ocasiona outros erros e transtornos, como efeito dominó.”


Particularmente, o efeito desse filme sobre a minha vida atual, consiste em dois aspectos: “Primeiro, colocar em cheque a minha paciência, em lidar com o fator tempo e o meu maior calvário psíquico – A ansiedade; segundo, projetar uma série de expectativas afetivas em outrem e fazer planos afetivos para o futuro, uma área inviável para se ter seguranças universais ao longo prazo, porque os sentimentos não são exatos, eles mudam com o tempo, assim como as pessoas e os seus interesses, ainda mais se tratarem de pessoas com perfis volúveis, de temperamento inconstante”. Só um adendo importante, eu não me considero volúvel, apenas impaciente quanto à espera.

- “Ai, ai, ai... Papai!!!”


No que consiste, fator paciência, é algo que eu realmente preciso trabalhar e aprender a lidar melhor com as minhas vontades e ansiedades, pois eu estou tentando fazer isso a partir do uso racional e organizado do tempo para não deixa-lo tão ocioso, pois, “cabeça vazia, oficina do cão”, e da auto-reflexão constante. Assim, eu estou tentando conter o meu orgulho, mediado por sonhos, desejos e metas, através do exercício da humildade – Algo que testa o meu egoísmo diariamente. Agora, a pergunta que não quer calar: “Será que eu teria paciência para esperar alguém por 20 anos?!!!”

- “Ui, sinceramente, eu acho que hoje não. 20 anos de renuncias, de hesitações, de frustrações e de esperas seria exigir muito de mim. O tempo passa muito tempo para vivermos em função dos “ses”, mesmo que seja inevitável não estar com um punhal em forma de (?) cravado em nossa cabeça ou em forma de esperança. Eu confesso que já precisei esperar alguns meses para que algumas decisões fossem tomadas e algumas indecisões se definissem ou deixasse alguns sentimentos se diluíssem com o tempo, momentos do ápice do tormento e da sofreguidão pessoal, mas, não me sinto capaz dessa longa espera, não por agora. Tudo bem, que já espero 30 anos para encontrar “a persona” certa na minha vida, talvez, eu passe por aqui e nem tenha a sorte de encontrá-la, mas, até o último minuto da minha existência, nesta vida, vou tentar, pelo menos, continuar tentando encontrar ou ser encontrado. Mas, existem momentos que bate uma vontade sincera de jogar a toalha e passar indiferente a esses assuntos do coração, de forma incólume, “without pain, without sufferance”, meio que anestesiado. Mas, isso não seria viver, e acabo voltando atrás dessa renuncia.”


Agora, quanto às projeções futuras, elas devem ser planejadas sim, porém, mais do que planejá-las torna-se necessário executá-las. Sair do mundo das idéias para o mundo das ações. O universo afetivo sem ação, torna-se platônico ou inexistente, algo que eu estou vivendo na pele, vocês bem sabem: “Inexistência de beijos, de carinhos e de relacionamentos”. E como eu já antecipei em “post’s” anteriores, eu não irei fazer projeções futuras, “Basta!!! Deixando fluir espontaneamente...”

- “Agora, indiscutivelmente, num momento ou noutro, nós iremos nos encontrar com a solidão e precisaremos caminhar com ela. Mas, a idéia da solidão em si, não me assusta, pois, é algo que já lido e sinto-me bem comigo mesmo, mas, o que me deixa em polcas e inquietações é o não exercício da afetividade, da troca de carinhos mútuos. Na verdade, eu não quero precisar ter que protagonizar com uma camisa no final das contas, trancafiado por omissões e arrependimentos, em vias de “conflituante-conflituado”, um zumbi afetivo.”


No mais, cada um com os seus segredos, com as suas limitações, mas, a arte de se relacionar, vai além de ter que se bastar apenas em lembranças vividas em alguns momentos furtivos ao pé e/ou ao pico da montanha, é desfrutar plenamente do dia-a-dia entre conquistas e renuncias, ganhas e perdas, alegrias e tristezas, agrados e desagrados, porque compartilhar uma vida a dois é, no mínimo, andar de montanha-russa, enfrentando os “loops” e as “borboletas na barriga” que passam com o tempo.

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"As lágrimas não reparam os erros!!!"

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"Eu não ficaria bem na sua estante..."