Q uando isso aconteceu e eu não percebi?!!!
De fato, eu não trago mais comigo os meus sonhos de infância. Isso deve ser, porque, com o passar do tempo, eu fui descobrindo à duras penas que se tornar um adulto significa em parte ter outras prioridades, bem diferentes daquelas quando éramos felizes e não sabíamos: Estudar, brincar, estudar, brincar... e nos chatiar por não querer fazer a lição de casa ou estudar para as provas; sonhar com os personagens dos desenhos animados e dos programas infantis, dos contos de fada, da carochinha e dos super-hérois; desejar ansiosamente para o Carnaval chegar logo, para usar a repetida fantasia de índio ou estreiar a prometida fantasia de pirata, a Páscoa para comer compulsivamente os ovos de páscoa, o mês de Julho para entrar de férias, o mês de Outubro para ter direito à muitos presentes, graças ao aniversário e ao Dia das Crianças, o Natal para entrar em clima de festas de final de ano e ir dormir antes da meia-noite para não correr o risco do Papai Noel não trazer os presentes... Ou, abrir mão deles, por não acreditar mais neles.
Quando a era da inocência vai embora e você deixa de ser criança, a realidade esbarra em você. Das duas, uma: Ou você, sucumbi, sendo engulido pela vida, que em alguns momentos ela é dura e cruel, ou você, tenta se adequar a vida, buscando compreendê-la para encontrar mecanismos de sobrevivência e satisfação. Eu confesso que já sucumbi diante a realidade, algumas vezes, mas, foi vivendo momentos de extrema fragilidade que eu encontrei a força necessária para continuar firme e forte atuando na vida. Atuar, sim, mas, como participante desse espetáculo, e, não, sendo outros personagens que não fossem eu mesmo.
E foi deixando de ser criança, inocente e super-protegido, que eu descobri: A partir do momento que você assume o papel de vítima, envolto por uma capa de fragilidade e de covardia, a vida passa por cima de você como um trator. Quando você começa a perceber essa sutileza natural da vida, como Darwin diria a "Lei da Seleção Natural dos mais fortes", você começa a amadurecer. É... um dia a gente acaba crescendo!!! Hoje, eu me refaço muito mais rápido, do que algum tempo atrás...
É nesse momento, que você começa a fazer escolhas em detrimento de outras, abrir mão de sonhos, perder ou diminuir algumas características pessoais importantes, tais como, a fé em Deus, o sentido e a positividade da vida, a confiança nas boas intenções das pessoas, a negação e a dúvida de algumas das suas potencialidades, o romântismo, a ingenuidade e a pureza infantil. Por mais que eu tente me enganar, achando que eu perdi algumas delas, a vida me demonstra que não. Mas, ao mesmo tempo que ela sinaliza que eu não perdi, talvez algumas pessoas cinistras que passaram na minha vida e/ou o meu jeito impaciente de ser sinalizam que sim. Sim, não. Não, sim. É assim que vamos caminhando... oscilando entre dúvidas e certezas, erros e acertos.
Se, por um lado, eu perdi a minha infância, por outro, a maturidade me deu ferramentas importantes para que eu possa lidar com as minhas inseguranças, questões e labirintos. Mas, quando se perde a ingenuidade, o colorido e a leveza da vida pueril vão embora juntos com ela e o preço a ser pago por essa perda, chama-se: Lucidez. O véu do lúdico, do sonho e da pureza é substituído pela lupa da realidade.
Umas das certezas que trago comigo e não abro mão é a capacidade de enxergar nas entrelinhas e fazer uma leitura crítica da vida, das pessoas e das relações através da lucidez. Mesmo que você tenha que pagar o preço da decepção, do engano e dos desabores. É, infelizmente, viver não é apenas fragâncias, cores e sabores.
E, por mais que eu tenha tido a minha cota de decepções, a lucidez é o melhor caminho para a felicidade, pois é ela que me faz enxergar a beleza, o bom humor e as lições positivas do imperceptível e do usual e me faz fortalecer diante das adversidades e dos obstáculos. Se eles existem, com certeza, é para serem superados. Todavia, crescer não é padecer, mas, aprender a viver com sabedoria e qualidade. Não sei se estou conseguindo, mas, vou tentando, tentando, tentando... Será que eu estou no caminho correto?!!!
Um comentário:
É claro que vc está caminhando correto, Daniel!
Poxa... Esse texto me fez retroagir no tempo e voltar a minha infância. Ainda hoje comentei sober isso com um amigo meu, sobre minha infância.
Minha vida é claramente dividade em dois períodos bens distintos. Um quando eu era adolescente e trabalhava por prazer; outro, depois de adulto, onde trabalho porque preciso. E meu atual trabalho é a linha divisória desses dois períodos. Sinceramente eu gostava mais do outro.
Ah, eu não poderia encerrar meu comentário sem dizer que vendo a foto do Daniel pequenininho (Dankinha), bochechudinho como era, chega dá vontade de apertar aquelas bochechas. hehehehe.
Daniel, seu texto foi genial!
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