No final dessas Eleições 2018, mais uma vez coube ao Nordeste à função democrática de Resistência, de tentar manter a obscuridade autoritária e fascista afastada de todos nós brasileiros. Porém, o fardo dessa missão era pesado demais para nós, nordestinos, mesmo com a adesão do Pará e Tocantins nessa causa. Tentamos, mas proteger e abraçar a livre democracia, blindando-a das ideias autoritárias e segregadoras não foi escolhida pela maioria. Por isso, a ala não petista do Nordeste, por falta de opção, também precisou se vestir de vermelho em prol de um bem maior, em nome do respeito à democracia e da humanidade. Isso não nos faz mais ou menos patriota ou solidários ao nosso povo por isso, pois, mesmo estando em campos de batalha opostos, como brasileiros que somos, também amamos o nosso país. Então, assumimos uma postura de anti-bolsonaro como símbolo de resistência ao olhar de abandono e descaso político com que os outros partidos e projetos políticos (des)tratam e ignoram as nossas carências e necessidades geopolíticas e sociais, como também, desvalorizam o nosso potencial econômico e burlam do povo nordestino.
Quando se fala de Resistência Nordestina, logo me vem em mente as tentativas separatistas de outrora ou discutir sobre a temática do "Separatismo" como também duas músicas que retratam muito bem disso:
Já que existe no sul esse conceito
Que o nordeste é ruim, seco e ingrato
Já que existe a separação de fato
É preciso torná-la de direito
Quando um dia qualquer isso for feito
Todos dois vão lucrar imensamente
Começando uma vida diferente
De que a gente até hoje tem vivido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente
Dividindo a partir de Salvador
O nordeste seria outro país
Vigoroso, leal, rico e feliz
Sem dever a ninguém no exterior
Jangadeiro seria o senador
O cassaco de roça era o suplente
Cantador de viola, o presidente
O vaqueiro era o líder do partido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente
Em Recife, o distrito industrial
O idioma ia ser nordestinense
A bandeira de renda cearense
"Asa Branca" era o hino nacional
O folheto era o símbolo oficial
A moeda, o tostão de antigamente
Conselheiro seria o inconfidente
Lampião, o herói inesquecido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente
O Brasil ia ter de importar
Do nordeste algodão, cana, caju
Carnaúba, laranja, babaçu
Abacaxi e o sal de cozinhar
O arroz, o agave do lugar
O petróleo, a cebola, o aguardente
O nordeste é auto-suficiente
O seu lucro seria garantido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente
Se isso aí se tornar realidade
E alguém do Brasil nos visitar
Nesse nosso país vai encontrar
Confiança, respeito e amizade
Tem o pão repartido na metade
Temo prato na mesa, a cama quente
Brasileiro será irmão da gente
Vai pra lá que será bem recebido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente
Eu não quero, com isso, que vocês
Imaginem que eu tento ser grosseiro
Pois se lembrem que o povo brasileiro
É amigo do povo português
Se um dia a separação se fez
Todos os dois se respeitam no presente
Se isso aí já deu certo antigamente
Nesse exemplo concreto e conhecido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente
Povo do meu Brasil
Políticos brasileiros
Não pensem que vocês nos enganam
Porque nosso povo não é besta
(Nordeste Independente by Elba Ramalho)
Retirante ruralista, lavrador
Nordestino lampião, salvador
Pátria sertaneja, independente
Antônio Conselheiro, em Canudos, presidente
Zumbi em Alagoas, comandou
Exército de ideais
Libertador, eu
Sou mandinga, balaiada
Sou malê
Sou búzios sou revolta, arerê
Ohh Corisco, Maria Bonita mandou te chamar
Ohh Corisco, Maria Bonita mandou te chamar
É o vingador de Lampião
É o vingador de Lampião
Êta cabra da peste
Pelourinho, Olodum somos do Nordeste
(Revolta Olodum by Olodum)
Considerar o separatismo como uma ação política viável para desenvolver o Nordeste e tratar das suas questões mais urgentes, não pode ser tratada levianamente e no calor da indignação, porquê requer um estudo sério e minucioso, nada irresponsável. Somos brasileiros, porra!!! Também merecemos ser valorizados e respeitados no cenário geopolítico, econômico e sociocultural da brasilidade que nos toca como cidadãos brasileiros. E a força do povo nordestino está justamente a nossa resistência de sobreviver e seguir adiante contra qualquer obstáculo. Somos um povo forte e aguerrido, maiores do que a carência que nos abate.
Como cearense que sou, a única certeza que eu tinha nesse cenário eleitoral era que o Ceará seria resistência nessas eleições, porquê toda e qualquer eleição que nos envolva é encarada com seriedade, faz parte da nossa tradição política. Assim, candidatos amadores, oportunistas e pseudo-celebridades que se aventuram nas nossas eleições, dificilmente conseguem se eleger com maioria dos votos cearenses. Pobres porém politizados. Não é dessa vez que Bolsonaro sairia vencedor dentro do Ceará, cabendo à ele apenas 29% dos votos.
Se os nossos dias ensolarados não ficarem nublados com o Bolsonarismo, supõe-se que apesar da retaliação política nestas eleições, o Nordeste será amparado pelos políticos e os projetos políticos que elegeu, mesmo sabendo que não será nada fácil e ameno, pois os nossos governadores, senadores e deputados terão que trabalhar muito mais em prol do povo nordestino e da nossa região. 71% dos cearenses votaram em prol da #DemocraciaSIM, mesmo estando em mood de luto, em pleno processo de agonia política.
Então, é nessa vibe de resistência que o cabra da peste nordestino vai continuar em sua caminhada de luta... de preferência seguindo em paz e democraticamente até o dia que nos for permitido. Não é do nosso estilo político ficar inerte à apatia e injustiça social, abaixando a cabeça e dizendo amém as atrocidades e desmandos políticos cometidos contra nós, e/ou indiferentes às dores e tragédias do nosso próximo.