terça-feira, 27 de maio de 2008

XII PARADA PELA DIVERSIDADE SEXUAL: Eu fui!!! (Part I)


A primeira parada a gente nunca esquece!!!


Eu já havia escutado esse bordão algumas vezes, seja através dos comentários mais empolgados das “bibas” mais experientes e assíduas ao evento, que aguardam ansiosas e sedentas para “celebration of big gay party, ou dos comentários mais ferozes e críticos dos “ex-participantes” que se desencantaram com os rumos degradantes que a parada está seguindo nesses últimos anos, além dos incentivos dos curiosos de plantão, que se utilizam das suas credenciais de “HT’s” e “simpatizantes” para acompanhar o evento como espectador – Naturally, witch anybody will hide ours secret’s desires and unilienable through of that. E estando em Sampa, eu não poderia deixar de conferir a dimensão desse evento um pouco mais de perto e analisá-lo através dos meus próprios olhos, tirando as minhas próprias conclusões.


O EVENTO EM SI”


Sinceramente, nesta 12º edição, como canal de tribuna, debate e ouvidoria das reivindicações populares em defesa das causas sociais e cidadãs da comunidade GLBTT, a parada falhou em muitos aspectos, principalmente, pela ausência de discussões pertinentes e de exercício crítico e politizado da massa eufórica e purpurinada. Parte-se do princípio que ninguém está ali condicionada para debater e elaborar propostas mais concretas para serem encaminhadas as autoridades competentes da câmera de vereadores e outras instâncias a nível estadual e federal, mas para festejar fervorosamente a sua identidade sexual.

- “Simplesmente, a “parada gay” não foi idealizada para ser um fórum social de debates e deliberações políticas, mas um evento popular e democrático que visa pura e simplesmente demonstrar ao país: “Hei, nós estamos aqui, nós existimos e vocês não podem nos ignorar”. Enfim a síntese de um evento para entreter a massa, uma festa, uma celebração à diversidade sexual. Mais do que sensibilizar a população heterossexual com as suas necessidades como ser humano e cidadão, buscando o respeito, todos que participam desse evento estão ali para observar, rir, dançar, beijar, entreter-se, caçoar, chocar-se, confraternizar-se, até mesmo criticar o evento e a fuzarka dos gays e com os gays. Uma complexidade de sensações e reações assim como a complexidade sexual.”


Se por um lado, o evento falhou como movimento social de discussão reflexiva sobre políticas públicas e respeito social (caindo sobre terra diante da fuzarka e dos excessos arco-íris), por outro, enquanto evento de visibilidade da comunidade GLBTT para que a sociedade não faça vista grossa para a sua existência (pois, não há como não perceber esse grupo tão diversificado e intrigante) e de entretenimento e lazer, “free, 100% free” para os participantes, ela conseguiu cumprir o seu papel, pois, a comunidade ainda continua sendo percebida ao nível nacional e internacional, mesmo que ainda de forma caricata e transviada, e a diversão é garantida, mesmo com alguns contratempos, apesar de que não tem como não estar reunido com os amigos para zoar, dançar ou, no mínimo, dar boas risadas e ser paquerado – já que os heterossexuais também não são excluídos dessa grande festa.

- “Enfim, se eu fosse definir a Parada Gay em geral, a definiria como um evento de visibilidade social da comunidade arco-íris e de entretenimento e lazer, aonde apesar de alguns problemas de organização estrutural do evento e do comportamento excessivo de alguns participantes sem bom senso, a alegria e espontaneidade ainda são as suas principais características, pelo menos aquelas que ainda continuam vivas no decorrer dessas 12ªs edições. Embora seja a minha primeira participação no evento, no qual tive a oportunidade de estar com alguns dos meus amigos e registrar em observações, impressões, fotos e vídeos algumas representações simbólicas sobre essa XII Edição.”


(DES)ORGANIZAÇÃO


Por ter brincado vários anos “O Fortal”, a micareta fora de época de Fortaleza, e conhecer bem o funcionamento e a estrutura das micaretas do Nordeste, não tem como não fazer uma comparação entre as organizações dos dois eventos, pois, independente do público de participantes envolvidos, a organização torna-se mais do que necessária. A “pipoca”, setor alheio que acompanha todo o trajeto dos trios, composta por aqueles foliões e observadores que contemplam o espetáculo, sempre geram e estão expostos aos mesmos problemas: brigas, badernas, empurra-empura e ação livre dos marginais.

-“Organizar um evento desse porte, que sempre envolve um grande público, é muito mais do que convocar vários trios elétricos e decorá-los com a temática da festa, cercando-os de cordas por todos os lados, esquecendo de dois aspectos fundamentais: primeiro, separar os foliões da “pipoca” e, segundo, o mais importante, promover a segurança daqueles que querem seguir os trios, sem se preocupar com aspectos da segurança e do bem-estar; colocar alguns “VIPS” e anônimos em cima deles, colocando-os para dançar, cantar, acenar e rebolar; aumentar o volume do som em alta voltagem e decibéis; e contar com o apoio ínfimo de algumas ambulâncias móveis e do tímido aparato policial, representado por um pequeno contingente de homens na rua, mas bastante truculentos, que não conseguem dar conta de um evento assim, mesmo que pacífico e democrático, e alguns banheiros químicos espalhados ao longo do trajeto. A organização da parada ainda tem muito com o que aprender com a organização das micaretas, sobretudo com a experiência baiana. Depois que vocês descobrirem do que se trata, a gente retoma a discussão de como se deve gerir uma mega-organização, sem precisá-la privatizar. Através de patrocínios e das iniciativas dos próprios empresários que apóiam a causa e a temática gay a organização pode ser incrementada, sem representar ônus.”


Nesse sentido, por causa da desorganização da parada, os foliões que seguiam os trios elétricos eram conduzidos pelo caos e meio-gatos-pingados que trabalhavam ali, além de estarem expostos a uma série de imprevistos, entre eles a violência física (brigas), os comportamentos inconvenientes daqueles (dos ambulantes que atropelavam alguns foliões para realizar as suas vendas, além da “breja”, vendiam aquele vinho “pé duro”, que derrubou e degradou aqueles que não sabem beber moderadamente, dos participantes sem noção) que queriam continuar seguindo os trios a todo custo, a ação marginal (assaltos e descuidos freqüentes pela ausência mais zelosa e efetiva dos policiais e dos organizadores) e aquele empurra-empurra generalizado (sempre desagradável, porque a lei é “sempre em frente, pois a fila anda”), onde sempre algum pé é pisado (como o meu foi inúmeras vezes) ou pessoas machucadas.

- “É fato, se não a ver uma melhora significativa na organização do evento, a segurança da parada será bastante prejudicada, afastando as famílias que a prestigiam, como também a participação dos curiosos de plantão, enrustidos e participantes mais cautelosos e exigentes. Aspectos tão importantes como organização e segurança pública não podem ser esquecidos ou deixados ao acaso, porque, os oportunistas estão aí, tanto para faturar bens e carteiras como também para assediar aqueles que estão assistindo ao evento ou simplesmente passando por acaso na via pública – as mulheres sempre são vítimas dos engraçadinhos do “se colar, colou”, que as bulinam e dizem “gracinhas” de toda espécie. “Organization of Parade, please, open your eyes!!!” Uma atitude se faz necessária.”


AS MAZELAS OBSERVADAS


  • AUSÊNCIA DE SEGURANÇA: A desorganização do evento acaba por gerar outros problemas ao seu andamento, faltando segurança aos participantes em geral, seja foliões ou espectadores que ficam a mercê do caos;

  • CAOS: Um evento mal gerenciado, pela falta de estrutura + ausência de uma ação mais efetiva do aparato policial = caos (violência física, marginalidade, degradação física e moral);

  • BADERNAS: Uma vez instaurada o caos, focos espalhados durante todo o trajeto, havendo brigas e agressões físicas entre os participantes, geralmente, com seus ânimos alterados por drogas lícitas (bebidas alcoólicas) vendidas de forma desordenada pelos ambulantes e ilícitas (um “baseadozinho de erva”, no mínimo!!!) consumidas pelos usuários;

  • MARGINÁLIA: Os marginais literalmente fazem à festa, apoderando-se de celulares, máquinas digitais, relógios, carteiras e “otras coisitas más” através de “descuidos” (quando eles se esbarram nos distraídos, se apoderando dos seus pertences) ou de “assaltos” (tomando os seus pertences, munidos ou não de armas);

  • INÉRCIA DO APARATO POLICIAL: Além do pouco contingente de policiais disponibilizados para cuidar da segurança pública, um efetivo muito aquém para conter a multidão de seguidores do evento, a impressão que me deu, foi que eles se colocam na postura de observadores passivos, achando que a presença inerte deles ali, simbolizados pela hierarquia das suas fardas e dos seus distintivos é suficiente para inibir as exaltações da massa ou observando extasiados pelo espetáculo que estão contemplando, não sei até que ponto eles estão maravilhados e/ou horrorizados com o “circo arco-írisque vêem, esquecendo que eles estão ali para trabalhar, manter a ordem do evento e a integridade física e moral da população. Quando acontece algum evento mais violento, que de fato precisa da intervenção policial, daí sim, eles agem, mesmo que de forma truculenta, com direito a gás de efeito moral e cacetadas;

  • PERDA DO ENFOQUE: O evento como protesto, perdeu o seu propósito inicial de reivindicar os direitos e resgatar a cidadania homossexual, se é que de fato aconteceu nas edições anteriores, já que, na minha percepção, o preconceito em relação ao homossexual está diretamente ligado ao seu poder aquisitivo – quando ele tem poder de compra e certo status social, o seu direito de ir e vir não é tolhido e tem ferramentas para se sobressair em outras esferas e cenários sociais, sabendo conquistar o respeito e lidar com a ignorância e o preconceito (algo que jamais deixará de existir em humanidade). Agora, querer numa sociedade à parte, literalmente “cor-de-rosa” e impor o seu modo de viver aos heterossexuais, querendo reproduzir a opressão social e moral que sofrem, é outra questão e perpassa pelo bom senso e a proposta social que o movimento GLBTT quer construir – Movimento esse que eu tenho as minhas restrições por não ser homogêneo e reproduzir o auto-preconceito entre seus próprios membros: gays x lésbicas; gays másculos x gays afeminados, resistências aos bissexuais, travestis e transexuais. Aonde está o respeito e a tolerância entre os pares?!!! Como um movimento que busca inclusão, propaga a exclusão e o conflito entre os seus pares?!!! (Algumas reflexões a serem repensadas pelos ativistas e bandeirosos) Enfim, um enfoque que deveria ser para protestar e conquistar o respeito da sociedade, transformou-se num enfoque de entretenimento e lazer, entre festas e muito oba-ôba (“of course, to celebrate is in the script”);

  • FALTA DE DECORO, VULGARIDADE E PROMISCUIDADE: Com a perda do enfoque politizado e ativista, propostas mais presentes nas primeiras edições, pelo menos, notado no discurso dos organizadores nas ocasiões primordiais, a parada se resumiu à celebração, a festejar e extravasar. Assim, por falta de um propósito mais consistente e de direcionamento, os participantes acabam, “perdendo a linha”, “chutando o balde” e “enfiando o pé na jaca”: alguns acabam se expondo demais, sem qualquer senso crítico, dando vazão aos seus instintos primitivos e sexuais, e cedendo aos seus desejos, até aqueles mais “voyeurs”. A linha do que separa liberdade de expressão e libertinagem é muito tênue e alguns participantes acabam protagonizando cenas grotescas, onde expor as partes íntimas é o de menos, caindo na falta de decoro, vulgaridade e promiscuidade, esquecendo-se que estão sendo observados. Mas, para não ser injusto, até aonde eu presenciei, eu não vi cenas de sexo explícito, relatadas em outras versões, apenas algumas cenas grotescas: exposição de algumas partes íntimas (seios siliconados e bundas depiladas e não depiladas) de forma desnecessária e vil e cenas ardentes de afetividade ou puro desejo reprimido nas ruas (gays, lésbicas, bis, simpatizantes, curiosos e heteros se beijando e se amassando com os seus pares). Nada contra a exposição da afetividade em público, mas, algumas demonstrações são esfuziantes demais, gerando até constrangimentos aos que estão ali para prestigiar o evento.

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