segunda-feira, 20 de novembro de 2023

O Navio Negreiro (IV) by Castro Alves

 



(...) Era um sonho dantesco... o tombadilho 

Que das luzernas avermelha o brilho. 

Em sangue a se banhar. 

Tinir de ferros... estalar de açoite... 

Legiões de homens negros como a noite, 

Horrendos a dançar...


Negras mulheres, suspendendo às tetas 

Magras crianças, cujas bocas pretas 

Rega o sangue das mães: 

Outras moças, mas nuas e espantadas, 

No turbilhão de espectros arrastadas, 

Em ânsia e mágoa vãs!


E ri-se a orquestra irônica, estridente... 

E da ronda fantástica a serpente 

Faz doudas espirais ... 

Se o velho arqueja, se no chão resvala, 

Ouvem-se gritos... o chicote estala. 

E voam mais e mais...


Presa nos elos de uma só cadeia, 

A multidão faminta cambaleia, 

E chora e dança ali! 

Um de raiva delira, outro enlouquece, 

Outro, que martírios embrutece, 

Cantando, geme e ri!


No entanto o capitão manda a manobra, 

E após fitando o céu que se desdobra, 

Tão puro sobre o mar, 

Diz do fumo entre os densos nevoeiros: 

"Vibrai rijo o chicote, marinheiros! 

Fazei-os mais dançar!..."


E ri-se a orquestra irônica, estridente. . . 

E da ronda fantástica a serpente 

Faz doudas espirais... 

Qual um sonho dantesco as sombras voam!... 

Gritos, ais, maldições, preces ressoam! 

E ri-se Satanás!... 

Nenhum comentário:


"As lágrimas não reparam os erros!!!"

The Verve - Bitter Sweet Symphony (with lyrics)

♫ Pitty - Na sua estante

"Eu não ficaria bem na sua estante..."