Muitos acreditam e atribuem o término da relação a partir do "acabou", do final oficial do compromisso que existia entre o casal, embora, nem sempre, o sentimento de ambas as partes se esgotam ao mesmo tempo. No meu entender, o fim é chegado muito antes, quando os sinais aparecem prenunciando o rompimento, algumas vezes de maneira velada, imperceptível ou ignorada, e outras de maneira visível, arrebatadora e incontestável. Nesse sentido, quando uma relação a dois se torna insustentável, não adianta negá-la, não dá mais para fugir da tão temida atitude final: terminar.
- "Nunca é fácil ou completamente indiferente romper um relacionamento, independe do grau de envolvimento afetivo em qual estágio se esteja, uma vez que, se não bastassem os sentimentos envolvidos, muitos fatores podem desencadeá-lo, mas, quando você opta por você mesmo em prol do seu bem-estar e estando consciente da sua escolha, o rompimento assume a sua forma definitiva e sem retorno. Não há arrependimentos que possam despertar em você quaisquer sentimentos de culpa."
Criou-se também em torno do senso comum que a traição seria a principal vilã das separações, o que de fato não é mentira, sobretudo porque pontualmente para a grande maioria dos apaixonados a infidelidade seria a gota d'água que faltava para transbordar o copo da relação, porém, não podemos esquecer que ela também se apresenta como o último sintoma de uma relação doente, deteriorada, que já não estava indo tão bem, descendo ladeira abaixo num desfecho inevitável. Mesmo tentando superá-la, quebrou-se algo precioso e jamais restaurado: a confiança, uma vez quebrada, é muito difícil restaurá-la como era antes.
Todavia, antes da última punhalada nas costas, atravessando o coração em toda a sua extensão e fazendo-lhe sangrar, uma hemorragia voraz, é válido ressaltar que: Uma terceira pessoa só ingressa e atrapalha a vida do casal, porque já existe uma lacuna, uma espaço propício para a sua entrada, caso contrário, não há perigos, apesar das tentações existirem, mas, até então o foco está voltado ao casal.
- "Uma casal feliz e quem mantém uma relação satisfatória e harmônica não deixa espaço para que invasores oportunistas ingressem na intimidade do casal e se coloque no meio dos enamorados. Não há riscos que possam desfocar um sentimento recíproco e que fala mais alto, melhor, GRITA."
Assim, quando uma relação já se encontra doente e afetada por crises conjugais, se evidencia que o relacionamento já está desgastado, monótono e frustrante para uma das partes ou ambas, onde a rotina já tomou conta da relação, do dia-a-dia do casal. Desgaste, rotina, desentendimentos frequentes, indo dos pequenos impasses e atritos às brigas e agressões, nada mais representa do que o confronto de egos descontentes e a constação da relação de poder.
Diante da desarmonia na vida conjugal, as brigas vão se tornando cada vez mais frequentes e graves, podendo chegar ao auge da agressão física e moral. Assim, algo fundamental foi perdido: o respeito; e com isso as mágoas vão surgindo, acumulando-se e causando dores e sofrimentos, como também, abrindo um abismo intransponível entre o casal e minando a relação. A partir desse ringue afetivo, surgem frestas na relação para que uma das partes possa buscar fora da relação algo que não encontra na sua ou, até mesmo, uma nova relação, um novo amor.
Em virtude desse contexto decadente, a euforia e a sintonia tão intensa e mágica do início, no processo de descoberta e conquista do outro, onde elas vão se fragilizando e perdendo com o tempo de desgaste e crises afetivas que acabam por influenciar negativamente o sentimento de ambas as partes. Os sentimentos, as intenções e os planos mudam, o descompasso aumenta, a magia acaba e a luz apaga. A desarmonia se instala como uma erva daninha, como um parasita oportunista num corpo do hospedeiro, onde os planos em comum deixam de ser comuns, o casal se perdeu no meio do caminho e os seus interesesses tomam lados opostos, diferenciados.
- "Antes o que era comum, fruto do companheirismo, dividiu-se em dois, visões individuais e egoístas. A parceria foi perdida, a guerra subjetiva instalou-se gerando estranheza naqueles que se viam como um só."
Ao chegar nesse ponto, não há mais DR (Discussão de Relacionamento) que surja efeito, pois o diálogo se calou, minguou e não há mais nada a ser dito, porque tudo já foi dito, tornando-se mera repetição repetitiva - repetitiva para quem fala, repetitiva para quem escuta. Diante ao silêncio, só lhe resta esperar sofregamente ansioso e desesperado por uma solução mágica e milagrosa para desfazer o caos afetivo entre o casal ou, então, ir empurrando esse fardo relacional com a barriga. Mediante a impotência de uma das partes que ainda tenta salvar uma relação que se encontra em seus últimos suspiros, ela se encontra cansada, desmotivada e esgotada para tentar a redenção daquilo que não há mais salvação, em contrapartida, a outra parte, muitas vezes encontra-se calada, omissa, acomodada e indiferente com a situação.
Não se pode lutar sozinho por uma relação a dois, pois se trata de um fardo muito grande a ser carregado sozinho, sem mencionar que alguns "guerreiros" conseguem cair em sua derrocada máxima: mendigando por afeto e atenção, humilhando-se, maltratando-se, depreciando-se, punindo-se ao confrontar-se com a rejeição do outro. E, quando eles atingem ao final do poço, afetando as suas dignidades e auto-estimas, já é chegada a hora de repensarem os seus relacionamentos carcomidos por traças e baratas e tomarem uma atitude libertadora, não mais em prol de suas relações sem perspectivas ou de mudanças que não irão mais acontecer por parte dos seus companheiros, mas, em favor única e exclusivamente por eles próprios, pelas suas saudes emocionais e paz de espíritos.
- "É preciso perder o medo da solidão. É preciso romper com o hábito e a acomodação de se estar ligado numa relação insatisfatória e sem sentido, mas, por ainda estar ligado por algum motivo que lhe torna dependente emocionalmente. É preciso desatar todos os nós e abrir toas as algemas e amarras que te aprisionam. É preciso se amar em primeiro lugar."
Quem opta pela omissão e pela covardia de não tomar uma atitude em benefício próprio paga com a própria dor, desespero e frustrações, como também, a escravidão por manter-se estático numa relação insatisfatória e infortunada. Cada um é responsável pleo seu próprio sepultamento afetivo, pelo próprio calvário que padece, estando preso à um relacionamento pífio e agonizante e não se permitindo a viver outras oportunidades.
- "Quando todas as tentativas foram feitas para reestabelecer a relação e salvá-la e mesmo assim não foram suficientes para obter bons resultados, só basta retirar-se de cena com dignidade e com a certeza de que tudo o que poderia ser feito da sua parte foi feito. Não se trata do ponto final, mas de um novo começo..."