sexta-feira, 13 de junho de 2008

A Magia na ótica de Bourdieu


Na visão simbólica de Bourdieu, onde a vida social e religiosa é regida por signos e símbolos diferenciados (regras e normas sociais, condutas éticas e morais, costumes e hábitos comportamentais, tendências sócio-culturais, entre outros), a magia pode ser compreendida como religião. Porém, ao ser dominada pela racionalização, atuante na estrutura religiosa (sob o seu olhar mais racional, consciente e científico), a magia se tornou depreciada e vista como inferior.

Assim, com o surgimento da ideologia religiosa, representada por teodicéias (explicações religiosas) e filosofias de dominação e alienantes, ocorreu a negação dos ritos e dos mitos mágicos, suprimindo o culto mágico, miraculoso e extraordinário através do poder político ou eclesiástico (corpo sacerdotal legitimado pelo Estado) e demonizando os seus antigos deuses pagãos.

Em virtude disso, a relação entre a religião e a magia tornou-se minimizada e conflituosa, onde a magia passou a ser expressa através da manipulação legítima e profana do sagrado e pela imposição da dominação e da legitimidade estatal que privilegia o sacerdócio e prejulga e oprime a magia e o profetismo (representado pelo líder carismático que profetiza as revelações e as suas crenças e ritos).

- “Resumidamente, Bourdieu atribui à magia o interesse material, enquanto as práticas mágicas são consumidas como “bens de salvação ou religioso” e a manipulação e a coerção dos deuses e do sagrado de acordo com os interesses e as necessidades dos fiéis-clientes.”


Nesse clima repressor, a máquina religiosa oprime e domina os mitos e os ritos mágicos, associando-os as classes sociais mais carentes e menos desenvolvidas economicamente que buscam um imediatismo econômico e a realização das suas necessidades, dificultando o desenvolvimento das competências eruditas. Nesse sentido, são atribuídas as práticas mágicas as seguintes características:

  • Visam objetivos concretos e específicos, parciais e imediatos (em oposição aos objetivos mais abstratos, mais genéricos e mais distantes que seriam os da religião)”;

  • Estão inspiradas pela intenção de coerção ou de manipulação dos poderes sobrenaturais (em oposição às disposições propiciatórias e contemplativas da “oração”, por exemplo);”

  • Encontram-se fechadas no formalismo e no ritualismo do toma lá da cá”. (Bourdieu, 1974, p. 45)


- “Ledo engano que acredita que só os fiéis-clientes das classes marginalizadas economicamente recorrem às práticas mágicas. Os crédulos e praticantes da magia permeiam em todas as classes sociais, indo da A à F. Já em se tratando das “relações de troca” ou “DE UT DES”, (ui, isso me dá um nojo tão grande que vocês até imaginam o porquê), a troca que se prepondera neste caso, não é a troca do oportunismo barato e do alpinismo social a todo custo, mas na aquisição como um bem material e, geralmente baseado em relação de fé e subjetividade dos fiéis com os deuses pagãos.”


Enfim, na ótica de Bourdieu, a magia é caracterizada por sua profanação do sagrado, onde o mago ou feiticeiro ou sacerdote mágico tem o monopólio do saber mágico e a responsabilidade de atender as ansiedades e necessidades (íntimas e emergenciais) dos seus fiéis-clientes.


Fonte: BOURDIEU, Pierre. Gênese e Estrutura do Campo Religioso. In: A Economia das Trocas Simbólicas. São Paulo: Editora Perspectiva, 1974.


Nenhum comentário:


"As lágrimas não reparam os erros!!!"

The Verve - Bitter Sweet Symphony (with lyrics)

♫ Pitty - Na sua estante

"Eu não ficaria bem na sua estante..."