Cada relação tem a sua dinâmica própria e não há mal algum a gente querer avançar para o próximo estágio. Todavia, quanto maiores forem as nossas expectativas em relação ao outro, provavelmente, caso elas não sejam correspondidas, maiores serão as nossas frustrações. Afinal, ninguém que já esteja no mundo e/ou que ainda estar por vir tem a obrigação de se encaixar tal e qual aos nossos padrões, tipos ideais e esperas. As pessoas são o que são, independente da nossa vontade, e elas só dão aquilo o que tem para oferecer: Alguns, nada, nada, nada, nada, ..., nada; outros, tão pouco ou, talvez quem sabe, também muito; e o significado do que elas nos dão em troca do que estamos esperando, dependerá da nossa interpretação diante das situações e das nossas próprias expectativas, tanto as suas quanto as minhas.
Depois que eu iniciei no meu processo de desapego, eu aprendi algumas preciosas lições. Uma delas é não me incomodar tanto com o descompasso nas relações, pois, infelizmente, os desencontros fazem parte disso. Nem sempre o afeto e a consideração que nós nutrimos por alguém, será correspondido na mesma intensidade - podem até ser próximos, mas nunca similares, por se tratar de pessoas diferentes. A partir daí, eu aprendi a ser mais tolerante com as reações dos outros, até as mais apáticas. Nem sempre ou quase sempre, ninguém sentirá, pensará e agirá ao mesmo tempo como se fosse eu, então, ... se é para esperar algo de alguém ou colocar alguém no meu pedestal, que seja eu mesmo.
Mas, para não me colocar na posição de Deus, eu resolvi quebrar o meu pedestal. Isso não quer dizer que eu vou abrir mão de algumas peculiaridades e concepções que me fazem sentido e que fazem parte de mim. Se o fizesse não seria eu. Porém, isso não quer dizer que eu precise abrir mão de alguns critérios e ideais, afinal, a gente aprende a lidar com todo o aparato simbólico que constrói a nossa subjetividade.
No decorrer desse processo, eu também aprendi que eu posso andar com as minhas próprias pernas, sem precisar de "muletas afetivas", sem precisar da aceitação a partir do olhar do outro. Aceitação?!!! Que se dane essa submissão subjetiva e ausência de personalidade para bancar a suas escolhas e desejos. Como diria, uma grande amiga minha, uma das mais autênticas que eu tenho:
- "Eu tô cagando e andando para a aceitação dos outros com relação a minha pessoa".
Aceitando ou não, a vida continua o seu ritmo e a caravana vai passar mesmo os cachorros latindo - E como latem, heim?!!! E, a dependência da aceitação/aprovação de segundos e terceiros, é para os fracos. Já superei essa fase adolescente de "pertencimento" ao grupo.
Também aprendi à não levar tão a sério as miragens produzidas pelo culto ao ideal do "amor romântico". Muita ilusão e pouca praticidade. Muita idealização e pouca realidade. Muitas das nossas frustrações são o reflexo do excesso de romantismo que trazemos conosco, deixando-nos pouco inteligentes e subjetivamente burros, nos impedindo de fazer a leitura exata das nossas relações (nem sempre é e será um eterno Happy End), por estarmos envolvidos demais fantasiando as relações e o perfil das pessoas. Trata-se de uma fuga total da realidade, realidade esta que nem sempre é bonita.
Não posso negar o meu lado romântico, porém, aprendo a lidar todos os dias com esse lado, dando um freio nele com a minha racionalidade, com o meu olhar crítico que me torna mais livre e consciente das relações que eu estou construindo. Com certeza, no decorrer desse processo, eu me tornei um pouco mais duro, mais insensível, porém, tudo tem a sua compensação: Ganha-se de um lado, perde-se de outro. Ter pedido as minhas lentes "coloridas", baseada na ilusão que o romantismo traz, torna-se um bônus, quando me deixa mais forte e protegido diante dos desencontros e mais perspicaz contra as falsetas e "contos dos vigários" que nos contam.
Hoje, sem sombra de dúvidas, eu estou muito mais preocupado em manter o meu foco e o meu equilíbrio interior do que me perder em função de um relacionamento e de uma persona que não pode ser mais importante do que eu mesmo. Egoísta?!!! Sim. Egocêntrico?!!! Sim. Mas, é sendo assim que eu não me afastarei de mim mesmo. Só entende essa sensação é quem já se perdeu e precisou se encontrar. Não troco a minha paz de espírito e a minha tranquilidade por ninguém. Por ninguém mesmo.
Enfim, as minhas prioridades no momento são outras e, ao invés de ficar esperando a ação e a não ação do outro, eu prefiro ser surpreendido - Se você conseguir me surpreender. E aqui e ali, aos trancos e barrancos, eu vou aprendendo a lidar e a ministrar as dosagens dos meus sentimentos, ansiedade e esperas, tentando aniquilar qualquer traço de falsa ilusão e expectativa que aumente as minhas taxas de ansiedade e me faça sofrer fantasiando uma realidade mentirosa, que me deixe preso e acorrentado ao que não é e que nunca será. Diante de doces mentiras, eu passo. E as amargas também.
E, diante do que é possível, a gente vai seguindo... assim como o ar, livre e, às vezes, ameno, em companhia da revoada de pássaros, de preferência, sem lutar contra os gigantescos moinhos de vento que habitam dentro de nós, em nossas cabeças, e a desagradável aparição das aves de rapinas que podem surgir em nossos caminhos - elas também fazem parte do contexto e da natureza da vida.
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