quinta-feira, 18 de junho de 2009

Fragmentos poéticos


Em colóquios vespertinos durante a semana, alguns fragmentos dedicados para mim:


16.06.2009


T: "Voltei. Estava indo embora e eis que me caiu esse poema do Fernando Pessoa. Não resisti e voltei pra o transcrever pra vc. Achei parecido consigo, com seu momento..."


HOJE QUE A TARDE É CALMA

Hoje que a tarde é calma e o céu tranquilo,
E a noite chega sem que eu saiba bem,
Quero considerar-me e ver aquilo
Que sou, e o que sou o que é que tem.

Olho por to o meu passado e vejo
Que fui quem foi aquilo em torno meu,
Salvo o que vago e incógnito desejo
De ser eu mesmo de meu ser me deu.

Como páginas já relidas, vergo
Minha atenção sobre quem fui de mim,
E nada de verdade em mim albergo
Salvo uma ânsia sem princípio ou fim.

Como alguém distraído na viagem,
Segui por dois caminhos par a par.
Fui com o mundo, parte da paisagem;
Comigo fui, sem ver nem recordar.

Chegado aqui, onde hoje estou,conheço
Que sou diverso no que informe estou.
No meu próprio caminho me atravesso.
Não conheço quem fui no que hoje sou.

Serei eu, porque nada é impossível,
Vários trazidos de outros mundos, e
No mesmo ponto espacial sensível...


T: "Gostou do poema?!!!"

Dan: "Fernando Pessoa é um gênio... E fico muito lisonjeado com esse poema... Assim, você me deixa mal acostumado,viu?!!! Beijos

(...)


17.06.2009


T:

DA A SURPRESA DE SER - Fernando Pessoa


Dá a surpresa de ser.
É alto, de um louro escuro.
Faz bem só pensar em ver
Seu corpo meio maduro...


Dan: Hummmm quanta inspiração...

T: "Parece que Fernando Pessoa diz sempre algo que está incrustado na alma da gente..."

Dan: "Eu gosto muito de Pessoa... Além de Clarice, naturalmente..."

(...)



18.06.2009


T: "É incrivel... mas vejo em vc as mesmas indagações minhas..."


"Nasce um deus. Outros morrem.
A verdade nem veio nem se foi: o erro mudou.
Temos agora uma outra Eternidade,
E era sempre melhor o que passou.

Cega, a ciencia a inútil gleba lavra.
Louca, a Fé vive o sonho do seu culto.
Um novo deus é só uma palavra.
Não procures nem creias: tudo é oculto.

xxx

Que angústia me enlaça?
Que amor não se explica?
É a vela que passa
Na noite que fica.

xxx

O mistério das coisas, onde está ele?
Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
Que sabe o rio disso e que sabe a arvore?
E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?
Sempre que olho para as coisas e penso no que os
homens pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra.

Porque o único sentido oculto das coisas
É elas não terem sentido oculto nenhum.
É mais estranho do que todas as estranhesas
E de que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as coisas sejam realemte o que parecem ser
E não haja nada que compreender.

Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos:
As coisas não tem significação: tem existência.
As coisas são o único sentido oculto das coisas."


Dan: "Linda mensagem... adooorei!!!"

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"As lágrimas não reparam os erros!!!"

The Verve - Bitter Sweet Symphony (with lyrics)

♫ Pitty - Na sua estante

"Eu não ficaria bem na sua estante..."