quarta-feira, 27 de agosto de 2008

“A Busca do Romance e a Autodestruição” por Claudia Pacheco¹



“O leitor já observou que geralmente, assim que um casal começa a namorar mais seriamente, os dois se afastam dos amigos, dos parentes, da escola e de seus interesses pessoais?

Não raro, o homem abandona os esportes, os cursos que gostava de frequentar, os amigos da faculdade ou a turma do escritório... Torna-se triste, barrigudinho, começa a beber mais, assistir mais TV, dormir mais, preocupar-se mais com o dinheiro, etc.

A mulher afasta-se também das amigas, muitas vezes abandona a profissão, interrompe a faculdade ou então engaveta seu diploma. Começa a engordar, a enfeiar-se, “emburrece”, alienda da vida social, cultural e econômica. Torna-se depremida, angustiada e insatisfeita. É raro entretanto ela admitir tudo isso, até que as brigas comecem entre os dois.

A maneira tradicional que o casamento e as uniões afetivas são realizados parece diretamente contra a verdadeira natureza humana e da própria vida afetiva.

Até hoje observei que, na quase totalidade dos casos, quando uma pessoa se envolve num romance, ela automaticamente se desliga de todas as outras áreas de sua vida, passando a apresentar uma decadência muito grande no campo das amizades, cultura, profissão, espiritualidade, etc.

A pessoa apaixonada joga toda a vida fora, praticamente, para tentar curtir e viver somente aquele “pedacinho” da sua existência – o seu próprio romance – multiplicando a sua importância e vendo, com lentes de aumento, como o “tudo” de sua existência.

Mas, notem, isso acontece muito mais com a mulher do que com o homem.Ela destrói com extrema facilidade todos os seus dons, talentos, carreira, amizades, espiritualidade, enfim, essa gama incrível de vivências e opções que a vida lhe oferece, em troca de um romance.

Por melhor que o relacionamento seja, é impraticável que a mulher tente retirar a satisfação que uma vida toda pode dar, de um pedaço, de um pequeno compartimento dessa existência.Obviamente o relacionamento homem-mulher é um aspecto importante de nossa vida, mas não é o tudo e nem o mais importante.

“Quando a mulher abandona, ou coloca em segundo plano todas as áreas de interesse de sua vida para colocar sua expectativa em um romance, está cometendo o maior suicidio, a maior loucura que alguém poderia fazer. Não é a toa que os resultados sejam sempre tão desastrosos.”

Essa atitude, aliás altamente patalógica, nada mais é que uma atitude de destruir tudo o que a mulher tem em si e recebe de bom da vida.

Isso se compara ao que Eva fez, ao abandonar o Paraíso para seguir uma ilusão de ser “como uma deusa”, tentada que foi pelo demônio. Não é justamente esse padrão de comportamentoque a mulher segue até hoje? Abandona todo o Paraíso que está diante de si, ou sejam, milhares de opções de progredir e viver bem, para ter seus olhos voltados para o seu “deus”, em seu mundo à parte.

É um verdadeiro crime o que as mulheres vêm fazendo com as suas vidas. É uma alienação com conseqüências desastrosas para todos. Dificilmente o homem adota essa atitude. Somente os mais doentes abandonam sua carreira para viver um romance. Não é essa a queixa da mulher?
Que os homens, apesar de tudo, conservam sempre uma ligação forte com o mundo, com a humanidade e dão menos importância para o relacionamento afetivo do que as mulheres? Pois bem, é justamente isso que conserva os homens em maior equilíbrio.

É uma pena que a mulher culpe tanto o homem por essa fantasia não dar certo. Isso ainda dificulta mais os relacionamentos, tornando-os tensos e até impraticáveis.

Cada coisa deveria ter o seu lugar, a sua devida importância. Como querermos que um romance possa nos dar a satisfação que rejeitamos obter a própria vida?

“Acontece que, diante da grandeza da vida, somos somente um grãozinho de areia, em evolução constante; e dentro de um romance queremos ser o tudo para o parceiro; não estaria aí a raís dessa inversão?”

Muitos argumentarão: Mas, e os homens que gostam de ser tratados como deuses e serem adorados pelas suas companheiras? De fato, poderíamos dizer que a maioria dos homens se enquadra nessa categoria. A eles encanta essa idéia, embora eles próprios não façam o mesmo com suas amadas.

Mas isso não justifica a concordância e obediência de tantas mulheres em relação a isso. Esse pacto só servirá de dissabor para ambos, sendo altamente insatisfatório.

Um casal só pode se relacionar bem, se os dois se unem para um objeto comum, que é superior aos dois – um ideal, um trabalho humanitário – que eleve sua vida além do objetivo da união dos dois em si mesmos.

Segundo Margaret Anderson (1893 - 1973): “No amor verdadeiro você quer o bem da outra pessoa, no amor romântico você quer a outra pessoa”."

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1. Psicanalista, cientista social e escritora (autora do livro: “As Mulheres no Divã”) , vice-presidente da SITA, presidente e fundadora da Associação STOP a destruição do mundo.

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