quarta-feira, 16 de julho de 2008

Existem ligações e LIGAÇÕES


Desde o colegial, eu aprendi que alguns laços são estendidos pela vida afora, sem necessitar de constantes palavras, demonstrações de carinho, ações de conformidade, presenças físicas, justificativas e desculpas para reforçar os vínculos que vão além sobrevivendo o tempo, o silêncio e a distância. Existem ligações e ligações, que são maiores do que as nossas escolhas e afinidades.

- “Já perdi a conta de quantas pessoas entraram e saíram da minha vida, mas, nesses quase 31 anos, porque outubro está chegando, a vida colocou algumas pessoas no meu caminho, que eu não preciso fazer esforço algum para admirar, querer bem e jamais perder a familiaridade e a intimidade que existe entre nós, independente de quão afastados poderemos estar hoje.”


A vida me deu algumas dádivas, dentre elas, a família que eu tenho ao meu lado, que mesmo havendo momentos de “entre tapas e beijos” (nenhuma família consegue ficar ilesa desses momentos), são a minha referência e a segurança de que se eu cair no buraco mais profundo, eles não irão me deixar no desamparo, dentro do possível, e jogarão a corda. Já caí no buraco algumas vezes e me resgataram dali, estendendo-me as mãos, os colos, as orientações e as paciências, até naqueles momentos de que pura rebeldia e auto-afirmação eu não quis escutar. Isso sem contar das amizades que nós construímos durante o percurso. Sejam aqueles amigos de uma vida inteira, parcerias construídas ainda na escola, que perduram aproximadamente uns 20 anos, ou os amigos mais recentes, eu sei os quais eu posso contar e que estarão ao meu lado até o ponto final, simplesmente, porque a nossa alma e coração não se enganam - apenas eu sinto.

- "Mas, embora, cada ligação tem a sua importância, o seu momento e a sua missão, nada representa a dimensão maior do que aquela ligação que consegue superar a separação física e vital, que nem a morte consegue apagar. E é essa ligação que eu quero destacar aqui."


Por me proteger da minha subjetividade extremamente exacerbada, eu sempre quis me proteger apertando o meu botão da implacabilidade, sempre querendo bancar o durão afetivo: Sendo muito mais racional na hora de se relacionar, em pleno estágio de alerta colocando não apenas um, mas "os dois pés atrás"; colocando-me em primeiro lugar ao todo momento, afetivamente falando; lutando veementemente contra a super-proteção familiar - talvez, o meu senso de sobrevivência tenha evitado uma série de dissabores e contratempos (ainda bem), mas, por outro lado, também possa ter evitado que eu experimentasse o verdadeiro amor, o ápice do amor romântico (se é que ele existe, eu quero experimentar para poder compartilhar com vocês: "É de fato existe!!!").

- "Mesmo querendo vestir uma armadura de "durão", nunca consegui afastar de mim os meus caos emocionais e camuflar por muito tempo os meus sentimentos e desejos, principalmente para as pessoas que eu gosto e são importantes para mim."


Alguns meses se passaram após o falecimento da Filozinha, estou tentando caminhar sem o apoio dela, porém, quanto mais o tempo passa, mais eu me sinto ligado a ela, mais eu sinto a presença dela. É incrível como acreditamos que, a tendência dos afastamentos é o esquecimento, em alguns casos se aplica como solução, mas, para A LIGAÇÃO, ela não se aplica. Embora estejamos afastados "fisicamente", nessa dimensão terrena, eu outros âmbitos e dimensões ainda continuamos completamente ligados.

- "Meu amor só aumenta. Minhas saudades só aumentam. Nossa ligação é reafirmada a cada dia, a cada pensamento diário, a cada sonho, a cada oração. Eu não sou eu, sem ela."


No nosso caso, a percepção da nossa ligação, que já era uma ligação forte anteriormente - o filho caçula entre a prole de 3, hoje, ainda continua, mesmo que num plano mais espiritual, muito mais afetivo do que antes. Se antes, eu buscava formas de demonstrar o meu sentimento de filho para ela, fosse através de dengos, de palavras e de ações, de cartões e presentes em datas comemorativas ou simplesmente através de conflitos, hoje eu demonstro de uma forma mais intensa, porém intangível - a lacuna que existe em mim e a saudade e a necessidade de tê-la perto de mim em todos os meus pensamentos, momentos e poros.

- "Espiritualmente, quero senti-la bem. Embora, eu não possa tocá-la neste astral, no outro, sinto-a constantemente. Não sinto martírio ou tristeza por nossa separação, mas, saudades dos seus abraços, dos seus dengos comigo e da sua proteção materna. Nossa, como eu sinto falta disso. Como é difícil perder isso e ter a dimensão exata do que isso representava - "não é apenas coisa de mãe, pelo contrário, é amor de mãe". É A LIGAÇÃO que, infelizmente é quebrada em algum momento. Aos que ainda não passaram por essa perda, vocês só não irão senti-la se vocês partirem antes, mas, cada um pode ter a certeza, que a sensação da sua perda para elas, nem se comparará a sensação de perda para nós."


A minha sensação como filho, perde-se diante das sensações de uma mãe que perde alguma da sua prole. Sem pretensões, se a dor estiver presente nela, por sua separação de nós, sinceramente, espero que no coração dela repouse a paz e esteja abrandado. As minhas saudades não são expressões de dor ou de revolta contra a separação, mas, o amor de quem sente a ausência, sem culpas, sem omissões.

- "Talvez eu esteja sentindo pela primeira vez, qual é a dimensão do verdadeiro amor, longe de qualquer clichê de Romeu & Julieta ou síndrome de Édipo. Cada sonho tido é o momento único de sentir "fisicamente" a saudade e a possibilidade que nós temos de estar juntos. E por tudo e por todos os mistérios que existem entre o céu e a terra, eu não quero jamais perder essa possibilidade, essa permissão divina de estarmos mais uma vez juntos. Se eu sinto medo?!!! Não. Ao invés do medo, sinto-me mais vivo, mais amparado, menos sozinho."

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"As lágrimas não reparam os erros!!!"

The Verve - Bitter Sweet Symphony (with lyrics)

♫ Pitty - Na sua estante

"Eu não ficaria bem na sua estante..."